Quando cheguei aos Estados Unidos enfrentei diversos desafios, o primeiro, é claro, foi a dificuldade com a língua. Estudei muito antes de ir e comecei a fazer um curso em Dallas logo que cheguei, só que a realidade é outra e o problema maior era que eu não entendia o que eles falavam. Ficava atônito e tentava não transparecer o desconforto de estar totalmente à deriva. Para resolver este obstáculo, conversei com meu professor e relatei que aulas não estavam surtindo efeito para mim. A minha classe era multicultural e eu não entendia nada nas aulas e muito menos na rua. Ele foi muito atencioso e me transferiu de turma, o que foi muito positivo para mim, pois a metodologia era outra. O enfoque não era a gramática e sim aprender a ouvir. Enquanto você não entende o que seu interlocutor está falando a sua comunicação fica prejudicada. Para isto, escutava rádio, devorava os jornais da TV e os impressos, tentava imitar as frases que ouvia e fui me acostumando com a linguagem mais coloquial.
É muito diferente quando você vive a Língua vinte e quatro horas por dia. Às vezes, dá uma preguiça de pensar, de falar em Inglês o tempo todo e a gente chega em casa exausto. Outras, quando você percebe a sua evolução, mesmo que em pequenas coisas, é extremamente motivador.
O segundo desafio era trabalhar como músico. Não conhecia muitas pessoas, não tinha indicações de lugares onde poderia tocar, eram tantos senões que às vezes batia o desânimo. Só que a impermanência da vida nos surpreende a cada momento e em 2000 surgiu a oportunidade de trabalhar em uma peça teatral chamada Between Pancho Villa and a Naked Woman, da diretora mexicana Cora Cardona no Teatro Dallas e tratava-se da história do capitão Pancho Villa que foi um dos líderes revolucionários na Revolução Mexicana de 1910. Esta peça tinha algo curioso, a diretora incluiu na história uma viagem do personagem principal, Pancho Villa, ao Rio de Janeiro e ele ficou encantado com o som do instrumento Berimbau. O interessante é que quando criança eu jogava Capoeira com os mestres Bio e Sula e por isto o som do Berimbau estava no meu subconsciente e em um determinado trecho da peça procurava imitar este som em meu violão. Toquei também um trecho de Garota de Ipanema.
Com a experiência de teatro que tive quando fui aluno do curso de licenciatura em música na Fundação Lusíadas, pude musicar e aplicar meus conhecimentos na peça. Compus todas as músicas e as toquei ao vivo durante seis meses. Estas músicas eram em sua maioria, pequenos temas mexicanos. Foi a minha primeira apresentação profissional nos Estados Unidos.
Ocasionalmente, pensamos que desafios poderão nos desanimar, mas, ao contrário, são necessários e fazem parte do nosso processo de crescimento.
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